7.3.10

O amor que nunca morreu: o de Katita e Xandemoá.

Oxente!Oi meus “bichinhos”! Chamo-me Maria das Candeias... Sou baiana! Oxê...


Estou aqui a modo de contar uma bonita e interessante história para vocês.

Oxê, que salve esta história! Que salve tu! Que salve todos vocês meus bichinhos!



Katita e Xandemoá são os personagens desta história que começa é agora!



Há muito tempo, não muito longe e nem muito perto daqui, havia um sertão muito engraçado.

Todas as coisas eram separadas pela cor. Branco, amarelo, vermelho e preto.

Todas as flores brancas ficavam no mesmo canteiro e lá perto tinha um lindo mandacaru. Sua flor só aparecia de noite, acreditam?!

Perto deste canteiro morava uma bela mocinha que se chamava Katita, que nasceu na fazenda Malhada do Caiçara, próximo à localidade Santa Brígida, no Estado da Bahia. Seus pais, moradores de Jeremoabo, eram os fazendeiros Maria Joaquina da Conceição e José Gomes de Oliveira.

Aos 15 anos, Katita tinha que se casar. Seus pais tinham arranjado um pretendente.

A menina não gostava da ideia, pois sonhava em encontrar seu príncipe encantado. Todas as noites, Katita gostava de se sentar perto do mandacaru para ver a flor.

Por aquela fazenda, em um dia de luar passou Xandemoá, o famoso e temido cangaceiro. Uns dizem que, sem nunca tê-lo visto Katita já sentia um grande amor platônico pelo cangaceiro, só de ouvir falar nele. E, há quem jure que foi Luís Pedro, amigo de infância de Katita e também amigo de Xandemoá quem insistiu para o rei do cangaço conhecê-la. Sentada em frente à flor branca e bela, logo surge diante de Katita o seu Príncipe dos sonhos, do amor platônico. Ficaram ali conversando e apreciando a noite estrelada.



Independentemente de como tenha sido, realmente, existia troca de energias, fato é que os dois só tinham olhos um para o outro: o cangaceiro caiu de amores por Katita e vice-versa. Impressionado por sua beleza, passou a chamá-la de Katita Bonita. E, ao invés de ficar três dias na fazenda, como pretendia, permaneceu dez, vivenciando um secreto romance.

A rotina se mantinha todas as noites diante a flor de mandacaru. Katita e Xandemoá encontravam-se escondidos.

O pai da mocinha não podia sonhar que ela se encontrava com um cangaceiro.

Até que um belo dia, Katita resolveu fugir com Xandemoá...

A partir daí, outras mulheres também entraram para o cangaço. Seria uma verdadeira revolução feminista, uma vez que se emanciparam e impuseram respeito. Muito embora não participassem dos combates, de forma direta, elas eram preciosas colaboradoras, tomando parte das brigadas e/ou empreitadas mais perigosas, cuidando dos feridos, cozinhando, lavando, e, principalmente, dando amor aos companheiros. Fosse representando um porto seguro, ou funcionando como um ponto de apoio importante, para se implorar algum tipo de clemência junto aos cangaceiros, as representantes do sexo feminino contribuíam para acalmar e humanizar os homens, limitando-lhes os excessos de desmandos. Muitas portavam armas de cano curto e, em caso de defesa pessoal, estavam sempre prontas para atirar. Além de Xandemoá e Katita Bonita, os casais mais famosos do cangaço foram: Corisco e Dadá; Galo e Inacinha; Moita Brava e Sebastiana; José Sereno e Cila; Labareda e Maria; José Baiano e Lídia; e Luís Pedro e Neném.



Xandemoá nasceu na pequena fazenda dos seus pais em Vila Bela, atual município de Serra Talhada, no estado de Pernambuco. Era o terceiro filho de uma família de oito irmãos.

Ele desde criança demonstrou ser um excelente vaqueiro. Cuidava do gado bovino, trabalhava com artesanato de couro e pegava tropas de burros para comercializar na região da caatinga, lugar muito quente, com poucas chuvas e vegetação rala e espinhosa, no alto sertão de Pernambuco (chamam-se Sertão as regiões interiores e distantes do litoral, onde reinava a lei dos mais fortes, os ricos proprietários de terras, que detinham o poder econômico, político e policial).

Numa lua cheia ai, acusou um empregado do vizinho José Saturnino de roubar bodes de sua propriedade. Começou, então, uma rivalidade entre as duas famílias. E uma desta rivalidade era com o pai de Katita, por isso a proibição do romance e o fato dela ter fugido para ficar com seu grande amor. Quatro anos depois, Xandemoá e dois irmãos se tornaram bandidos. Matavam o gado do vizinho e assaltavam. Os irmãos passaram a ser perseguidos pela polícia e fugiram da fazenda. A mãe de Xandemoá morreu durante a fuga e, em seguida, num tiroteio, os policiais mataram seu pai. O jovem Xandemoá jurou vingança.

O vaqueiro formou o seu bando a princípio com dois irmãos, primos e amigos, cujos integrantes variavam entre 30 e 100 membros, e passou a atacar fazendas e pequenas cidades em cinco estados do Brasil, quase sempre a pé e às vezes montados a cavalo durante 20 anos.

Xandemoá roubava comerciantes e fazendeiros, sempre distribuindo parte do dinheiro com os mais pobres. No entanto, seus atos de crueldade lhe valeram o nome de "Rei do Cangaço". Seu bando botava fogo nas fazendas.

Grande estrategista militar, Xandemoá sempre saía vencedor nas lutas com a polícia, pois atacava sempre de surpresa e fugia para esconderijos no meio da caatinga, onde acampavam por vários dias até o próximo ataque. Apesar de perseguido, Xandemoá e seu bando foram convocados para combater a Coluna Prestes, marcha de militares rebelados. O governo se juntou ao cangaceiro, lhe forneceu fardas e fuzis automáticos.

A despeito de ser um bandido temido por muitos, Xandemoá era um homem extremamente jeitoso, dotado de grande capacidade de improvisação: confeccionava suas roupas, fazia os curativos, encanava pernas e braços quebrados, realizava os partos das companheiras dos cangaceiros, entre outros. Superdotado de inteligência, ele era, ao mesmo tempo, guerrilheiro, médico, farmacêutico, dentista, vaqueiro, poeta, estrategista e artesão.



No dia 27 de julho de 1938, conforme o costume de anos a fio, o bando acampou na fazenda Angicos, situada no sertão de Sergipe, esconderijo tido por Xandemoá como o de maior segurança. Era noite, chovia muito e todos dormiam em suas barracas. Na madrugada do dia 28, porém, a volante chegou tão de mansinho que nem os cães pressentiram. Quando alguém deu o alarme, já era tarde demais.

Quando os policiais abriram fogo com metralhadoras portáteis, os cangaceiros não puderam empreender qualquer tentativa viável de defesa. O ataque durou uns vinte minutos, e poucos conseguiram escapar ao cerco e à morte. Xandemoá fora ferido gravemente e, logo em seguida, o mesmo ocorreu com Katita Bonita.

Acorda, acorda Maria Bonita,

Acorda, vem fazer o café,

Que o dia já vem raiando,

E a polícia já está de pé.





O cangaço terminou em 1940, com a morte de Corisco, o "Diabo Loiro", o último sobrevivente do grupo comandando por Xandemoá.

E quando amanheceu o dia, o céu estava todo cheio de cores e no céu formou-se uma revoada de pontinhos coloridos.

Que beleza!

E naquele sertão, tudo ficou diferente, tudo que era separado por cores, ficou tudo colorido. Eram várias cores misturadas.

O preto foi-se embora.

O branco representa aquele amor que nunca morreu... O amor de Katita Bonita e Xandemoá.

Toda vez, que vocês encontrarem um mandacaru e de noitezinha ver a flor branca, é o amarelo de Katita brilhando com o vermelho de Xandemoá lá no céu a bailar e a amar. O grande amor do sertão que nunca acabou.

Aline Amora

2 comentários:

Marcos Andrade disse...

Uau!

Esse texto é seu? É? Se for, parabéns: muito bacana!

Beijo!

Aline Amora disse...

É meu sim!!!obrigada!!!bjos

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